Um sorriso que se estende pelas ruas... O eco de uma passagem por um tempo distante. A aproximação de um futuro saido do passado que agora se faz presente. A distância vertiginosa e um novo erguer de braços. Eis o que o tempo nos reserva, uma espiral de movimentos inacabados... Como se o eterno retorno nunca tivesse acontecido.

E os sorrisos... E os ecos... E os cheiros... Aqui e ali, pelas ruas... Pelos lugares de todos, que também são os meus.

Hoje fico com este sorriso, nos olhos.

Regresso

As palavras são um vício... Brincar com elas também. Apetece-me voltar.

De novo, encontro marcado... No mesmo lugar, outro dia, talvez a mesma hora. Mas com uma enorme vontade de ouvir... Gritos de dor, risos sarcásticos, que nos arrastam às profundezas mais obscuras... O efeito catártico de uma existência sentida na pele, que banha o corpo.

As profundezas da dor e do prazer.
Venho a ouvir-te.

De novo, caminhos antigos... A recordação da história gravada nas águas da memória... O regresso ao pensamento.
"Olhar p'ra trás pensamento em frente"... E em frente havia mais... Muito mais...

Apetecia-me encontrar palavras especiais para dizer este lugar... Onde, noite após noite, o meu olhar se perdeu para lá do mar que se via, tentando adivinhar o que o outro mar trazia. O frio lambia o rosto e o corpo tremia de prazer... Por poder partilhar este encontro com o mar, umas vezes iluminado pela lua outras velado por um nevoeiro intenso. Mas o sabor era sempre o mesmo... Do mistério dos lugares vazios... Onde nos sentimos ainda mais e abandonamos o corpo aos ventos.
Que pena não encontrar palavras especiais para dizer este lugar tão simples mas que me encheu sempre de tão estranhas e fortes sensações.

Ainda que os olhos se queiram fechar, pelo avançado da hora, não pude deixar de vir aqui escrever umas palavras.
Dos mares e das areias intermináveis trago, nos pulsos, a força que faz correr novos dizeres. Os lábios voltam a abrir-se para sussurrar novos voos. De asas abertas a pairar sobre sonhos que transpiram humidade... E aquecem a pele dourada que o sol teima em acariciar.
A viagem foi curta mas demorada... E aqui estou, de mão estendida... Com novas imagens para colorir estas páginas... Nas vezes que se seguem.

Com os olhos postos nas Värttinä e os ouvidos prontos para a escuta, espero ansiosamente por Sines... E por esse momento que deverá ser mágico. Cá vamos nós...

A pele escorrega-me, por entre os dedos, como vento que passa por entre árvores. Trago as mãos cheias de sonhos... Delicio-me com um banho de espuma, que me refresca o estômago e aquece os pulmões. Não me esqueço de respirar porque os lábios bebem o ar que afasta os mosquitos sarapintados.
Olho através do relógio e percebo o passar das células... Sinto a água que corre nas veias... Para tocar o mar-alto de sonhos e outras coisas que se desejam.