O tempo corre à velocidade da luz. Os dias passam pela pele, como folhagem que rasteja nas pedras da calçada. Os passos levam-me até ao fundo da rua. Aprecio o gosto do vento, que me enche a saliva de múltiplos sabores. Um lamber de lábios que assinala um tempo que se quer saborear.

[Imagem de Nelson Hancock]

«Verdade: onde estás?
No que penso, ou no que digo por desarrumo?
- Duas pinças da mesma tenaz
fincadas em fumo.»

[José Gomes Ferreira; Cinzas; Poesia III; Diabril Editora]

O sonho estala no céu da boca... Na suavidade de um palato vazio. Sinto escorrer, por entre os cabelos desfeitos, um estrondoso sorriso. Desliza, na pele, o cheiro das rosas secas. Pego na leveza do meu corpo e entrego-a à terra molhada. Escorrego por entre lençois de cetim vermelho. O chão não me apanha. Volto a tocar o céu.