Inspiro profundamente, enquanto a inspiração não chega. Salta-me o sangue, em golfadas de um novo respirar. Oxigenação de sonhos adormecidos.
Alto vai o sono que embala o corpo. As mãos, vazias, comprimem o ar líquido que escorrega por entre os dedos. Uma nova vida toca-me o corpo... E toco a vida num novo corpo.
As cores que se estendem por cima do rio... Num final de tarde. Uma cidade nova. Os passos que nos levam a lugares desconhecidos. Vagueando por ruelas de História, onde a nossa história se reconstrói. Ao sabor de um tempo antigo... O tempo pára... Ficamos suspensos, na crença de um renascer que flui, como as águas do rio... Numa explosão de cores, como o céu em chamas.
A noite rasga um olhar sobre as coisas. O manto negro cobre a pele que se estende no espaço. O corpo abre-se à luz... Que ilumina as entranhas. Nos lábios, o sabor a néctar do luar. O baloiçar dos braços abraça as estrelas. E a voz estende-se num canto de embalar desejos.
«Uma noite não é nada
Entro p'lo escuro
E saio de madrugada
Solto ventos no teu peito
Voam cambraias
Rios de luar desfeito
Sonhador
Troco sonhos p'lo teu amor
Dono da noite
Teus ombros a flutuar
Barca do sono
Sem rumo vai
Asa largada
Envolve-me um momento
Ulula o vento
Ondulam véus de luar Uma noite não é nada
Entro p'lo escuro
E saio de madrugada
Trago estrelas a queimar
Acendo velas
Nas sombras do teu olhar
Sonhador
Troco sonhos p'lo teu amor
Ave nocturna Inventa a dança do amor Pássaro breve
Dá-me o luar
Se eu t'o pedir
Desevenda-me essa paixão
Desfia a bruma
Em sedas de sedução» [BANDA DO CASACO; In "Banda do Casaco com Ti Chitas"]
Não se percebe se os dentes cerrados iniciam um sorriso ou se encerram um pensamento. Mas percebe-se que há uma tensão, pronta a explodir.Entre o espanto da descoberta e o medo da novidade...O tempo pára, a tensão aumenta.O amanhã é um tempo desconhecido... Mas as mãos abrem-se e desejam agarrar o tempo. Quero descansar o pensamento entre a pele do corpo. Amanhã voltarei, para abraçar um novo tempo.